Cap. 20 - O ar fresco da praia
Quando chegamos em Szeged logo percebemos a grande confusão que se formara. A estação rodoviária estava lotada de pessoas refugiadas. Os policiais esforçavam-se para "escoar" a massa de pessoas para fora da estação. Assim, fomos saindo. Lasloz, nosso novo amigo, decidiu ficar conosco. Minha mãe ligava para meu pai, mas o celular dele estava sem sinal. Assim, entramos num pequeno restaurante e aguardamos.
Depois de um tempo, o Sr. Lasloz foi até um posto policial. Voltou com a notícia de que a horda de refugiados já havia chegado à cidade. Era difícil localizar todas as pessoas, pois houve um grande espalhamento dos refugiados pela cidade. Por estratégia de logística da prefeitura local, muitos ônibus foram disponibilizados para levar grupos para cidades vizinhas. Os policiais lhe deram ainda a informação de que a situação na cidade era tensa. Muitos morados simplesmente não aceitavam a circulação dos sírios, de maioria muçulmana, pelas praças e comércio local.
Por causa disso tudo, já era muito tarde quando fomos levados para um abrigo improvisado. O local era limpo e fomos alojados num quarto apenas para nossa família. O Sr. Lasloz quis nos levar para casa de amigos na cidade. Contou-nos que morava em Budapeste, com sua esposa e filho. Era pastor protestante. E isso nos tranquilos. Mas minha mãe preferiu ficar num abrigo, por causa do registro, para meu pai poder nos encontrar mais facilmente.
Os adultos cogitaram várias possibilidades na hora de se despedir. Meu pai e os meninos devem ter ido para outro abrigo. Talvez tenham entrado num dos ônibus para outras cidades por engano. Certamente ficaram sem opção do que fazer e estavam longe agora. Mas amanhã tudo será esclarecido. Nosso amigo deixou claro que minha mãe poderia ligar para ele a qualquer momento. Ele não seguiria para Budapeste enquanto não nos reunisse novamente.
Então, apesar de toda a preocupação, entramos em nosso novo quarto. Minha chamou a mim e meus irmãos para participar de suas orações antes de dormir. Assim, nos ajoelhamos os quatro, à beira de uma das camas de beliches que havia ali. Aos poucos fomos ficando tranquilos, aconchegados.
Naquela noite, eu peguei no sono pensando nos passeios à praia que fizemos algumas vezes. Lembro de ter "sentido" o ar fresco das manhãs na praia de Latakia em meu rosto, antes de adormecer.
Em Latakia sentia o mesmo ar fresco da manhã em Aleppo. Só que o sol quente e o barulho do mar deixavam tudo diferente. A sensação que me lembro era de estar sendo suspendido do chão, a areia era leve, não era chão firme. O vento parecia que ia me levar embora. Pra onde eu iria se ele conseguisse me arrancar do chão?
Saíamos cedinho de casa, de carro. No nosso carro. Meus pais levavam toalhas, roupa, pães e água para a viagem. Quando chegávamos lá íamos direto tomar café da manhã num restaurante próximo ao mar. Aquela imensidão azul esverdeada. Era como se nada mais existisse ao meu redor. Ficava preso na sensação do calor e vento e som do mar, e pelo olhar das palmeiras. Tão altas. Sentava embaixo de uma, sempre a mesma, em frente ao restaurante, enquanto meus pais terminavam seu café da manhã. Eu comia sempre rápido, pra poder ir pra debaixo da “minha” palmeira. Então eu me ajeitava o mais perto da sua base e olhava pra cima. A ponta lá em cima tocava o céu.
Depois entrávamos no mar, sentávamos na areia, almoçávamos e voltávamos pra casa. Enquanto meus irmãos dormiam eu olhava pela janela. Minha mãe dizia pra eu dormir também. Mas eu não conseguia. Queria ver. E eu via.
Depois de um tempo, o Sr. Lasloz foi até um posto policial. Voltou com a notícia de que a horda de refugiados já havia chegado à cidade. Era difícil localizar todas as pessoas, pois houve um grande espalhamento dos refugiados pela cidade. Por estratégia de logística da prefeitura local, muitos ônibus foram disponibilizados para levar grupos para cidades vizinhas. Os policiais lhe deram ainda a informação de que a situação na cidade era tensa. Muitos morados simplesmente não aceitavam a circulação dos sírios, de maioria muçulmana, pelas praças e comércio local.
Por causa disso tudo, já era muito tarde quando fomos levados para um abrigo improvisado. O local era limpo e fomos alojados num quarto apenas para nossa família. O Sr. Lasloz quis nos levar para casa de amigos na cidade. Contou-nos que morava em Budapeste, com sua esposa e filho. Era pastor protestante. E isso nos tranquilos. Mas minha mãe preferiu ficar num abrigo, por causa do registro, para meu pai poder nos encontrar mais facilmente.
Os adultos cogitaram várias possibilidades na hora de se despedir. Meu pai e os meninos devem ter ido para outro abrigo. Talvez tenham entrado num dos ônibus para outras cidades por engano. Certamente ficaram sem opção do que fazer e estavam longe agora. Mas amanhã tudo será esclarecido. Nosso amigo deixou claro que minha mãe poderia ligar para ele a qualquer momento. Ele não seguiria para Budapeste enquanto não nos reunisse novamente.
Então, apesar de toda a preocupação, entramos em nosso novo quarto. Minha chamou a mim e meus irmãos para participar de suas orações antes de dormir. Assim, nos ajoelhamos os quatro, à beira de uma das camas de beliches que havia ali. Aos poucos fomos ficando tranquilos, aconchegados.
Naquela noite, eu peguei no sono pensando nos passeios à praia que fizemos algumas vezes. Lembro de ter "sentido" o ar fresco das manhãs na praia de Latakia em meu rosto, antes de adormecer.
Em Latakia sentia o mesmo ar fresco da manhã em Aleppo. Só que o sol quente e o barulho do mar deixavam tudo diferente. A sensação que me lembro era de estar sendo suspendido do chão, a areia era leve, não era chão firme. O vento parecia que ia me levar embora. Pra onde eu iria se ele conseguisse me arrancar do chão?
Saíamos cedinho de casa, de carro. No nosso carro. Meus pais levavam toalhas, roupa, pães e água para a viagem. Quando chegávamos lá íamos direto tomar café da manhã num restaurante próximo ao mar. Aquela imensidão azul esverdeada. Era como se nada mais existisse ao meu redor. Ficava preso na sensação do calor e vento e som do mar, e pelo olhar das palmeiras. Tão altas. Sentava embaixo de uma, sempre a mesma, em frente ao restaurante, enquanto meus pais terminavam seu café da manhã. Eu comia sempre rápido, pra poder ir pra debaixo da “minha” palmeira. Então eu me ajeitava o mais perto da sua base e olhava pra cima. A ponta lá em cima tocava o céu.
Depois entrávamos no mar, sentávamos na areia, almoçávamos e voltávamos pra casa. Enquanto meus irmãos dormiam eu olhava pela janela. Minha mãe dizia pra eu dormir também. Mas eu não conseguia. Queria ver. E eu via.
Eu jamais me separaria da minha família numa situação dessas. Mas vamos ver para aonde foi o pai..
ReplyDeleteO pai, Kadar, está desaparecido. A família angustiada encontra apoio no novo amigo Lazlo.
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