Cap. 28 - Policiais ao pé da cama
Deitada na cama hospitalar, os giros se tornaram incessantes. Meu labirinto respondia aos estímulos descontrolados da pressão arterial elevada. A falta de sentido – isso não estava no meu prontuário, mas era a causa do “stress pós-traumático prolongado” atestado pelo médico responsável. Acho que consideraram o fato de eu ter saído da síria sob bombardeio, e a travessia no mar, e a peregrinação comum aos refugiados, para então determinar o período como “prolongado”. Mas devia estar escrito lá: falta de sentido. Deixei o que era e o que tinha por causa dos meus filhos, e agora não sabia onde estavam, nem como Daniyal estava se sentindo, nem sabia se Kadar teria sequelas dos machucados na cabeça. Falta de sentido. O último paciente, da última noite no hospital em Aleppo, chegou em choque. Pálido. Seu coração parou sem que achássemos o motivo de sua disritmia. Diminui o ritmo e parou. Não houve outro acontecimento senão o choque. Conclusão: sua psiquê enviou uma mensagem ao cérebro...