Cap. 23 - Povo da Cruz
Na casa de Lasloz, em Budapeste, Labibah e as crianças foram recebidos como parte da família. Há muito tempo que ela e Kadar não sentiam esse calor humano. Sua história era de separação com as famílias. Ambas, a dela e a de Kadar, romperam laços com eles depois que se converteram ao cristianismo. Quando Yusef nasceu, os pais de Labibah foram visitá-los. E voltaram outras vezes. Mas os pais e irmãos de Kadar não quiseram mais vê-lo, por considerarem ingratidão depois de tudo o que fizeram para lhe proteger quando era criança.
A família de Lasloz ouvia atentamente as histórias que Labibah contava. Assim aprendiam sobre o pensamento das pessoas no Oriente Médio. As explicações de Labibah os cativavam. Sentiam que haviam sido indiferentes com a realidade dos refugiados sírios até aquele momento.
Compreenderam, entre outras coisas, que a mudança de religião no mundo muçulmano é algo muito complexo. Em geral, as famílias recebem isso como uma traição por parte do familiar. Assim, ele não é mais bem vindo. Não é mais convidado para festas e casamentos. Algumas vertentes religiosas mais radicais aplicam castigos físicos e até a morte. Enfim, não há uma forma única de lidar com a situação. Mas desde que os rebeldes tomaram parte da cidade de Aleppo, os cristãos passaram por situações ainda mais difíceis, ao serem vistos como inimigos do islã.
Ouviram um pouco mais sobre a diversidade da religião islâmica. O islamismo não é sempre o mesmo. Suas variações dependem das diferentes interpretações que são feitas do Alcorão e da Sunna. Jihad , por exemplo, significa "luta", "esforço". O conceito espiritual é o empenho por manter-se fiel à fé. Num discurso fundamentalista de grupos religiosos extremistas, ganha caráter de "guerra santa", justificando crueldades e até a morte de cristãos e de quem quer que se oponha às intenções do grupo requerente de seus direitos. Esse foi o caso do grupo de cristãos coptas, mortos na Líbia. Todos receberam um tiro na cabeça. Ao mesmo tempo. Eram taxados como "o povo da cruz".
Através das conversas com Labibah puderam entender que na Síria a violência contra os cristãos se dá em termos de discriminação no trabalho e nas escolas, pressão da família, saques às suas casas ou comércio, ataques aos prédios das igrejas. A finalidade é pressionar por meio do medo. Porém, a tomada de partes da cidade por forças extremistas tem gerado medo de que tais fatos cheguem ao seu país também.
A guerra na Síria é política, mas difícil de separar na guerra religiosa. Grupos como Fatah al Sham e Ahrar al Sham, agregam valores religiosos aos interesses políticos. Isso é assim desde sempre, mas não há uniformidade. Pode haver coalizões como as duas principais de Aleppo, Jaish al Fatah e Fatah Haleb. Mas sempre tem um outro grupo, ainda mais extremista se formando, por meio de dissidência. Uma "Al Qaeda" pra cada "Estado Islâmico". Um cidadão de Aleppo sabe dessas diferenças e as identifica no seu dia a dia. Desde a insurgência rebelde, contra o governo Assad, o medo se tornara presente para os cristãos. Parte do apoio que Assad recebe dos cidadãos é pela incerteza do que aconteceria aos cristãos sob um governo rebelde.
Conheceram a história de conversão de Kadar e Labibah. Ainda na universidade, eles se aproximaram dos cristãos e descobriram que eles não eram como que diziam que eram. Não é que fossem perfeitos. Mas eram tranquilos, e não impunham condições quanto a quem dispensariam sua bondade. Eram bons entre si, com os outros não-cristãos, e até com aqueles que os desprezavam. Assim, por curiosidade, começaram a frequentar algumas reuniões cristãs. Em pouco tempo, passaram a ler a Bíblia de maneira independente. Não conversaram com outras pessoas sobre seus pensamentos a respeito da leitura. Comentavam entre si, trocavam algumas ideias, mas cada qual teve um processo diferente de aproximação com o cristianismo .
Labibah se aproximou pela igualdade entre homens e mulheres que leu nas histórias bíblicas e reconheceu no tratamento dos homens cristãos com suas esposas, e demais mulheres do campus.
Kadar se aproximou pelo perdão. Quanto a isso, Sr. Lasloz, a esposa e o filho acenaram afirmativamente. Perfeitamente compreensível.
"O que a maioria das pessoas não compreendia era que tornar-se cristão não significava aceitar o ocidente" disse Labibah em uma de suas explicações. Nem as incoerências históricas do cristianismo. Não se tratava-se de adorar as fogueiras da inquisição, nem venerar as cruzadas. Era uma questão pessoal, um pouco difícil de explicar, mas forte o suficiente para reconfigurar sua visão de mundo. Era possível enxergar as pessoas fora do sistema de leis cumpridas ou descumpridas e das inúmeras punições. Era possível encontrar valor nas situações mais banais do cotidiano e ver nelas uma maneira de Deus falar. As palavras de Deus estão em todas as coisas que nos acontecem. Boas ou ruins."
Ficaram sabendo também que a história de Jesus, na perspectiva da Bíblia, foi uma novidade intrigante para o jovem casal. Descobriram que conheciam várias versões de quem teria sido Jesus e como foi sua morte. Mas, nunca o tinham pensado sua morte como um ato de entrega absoluta, colocando-se no lugar de outros, os quais não mereciam o sacrifício. Pessoas, nós diríamos, pelas quais não vale a pena.
Foi do ponto de vista de uma religião de aceitação, onde as pessoas não são incluídas ou excluídas a partir de seus delitos, é que Kadar e Labibah escolheram essa nova forma de vida. A vida cristã se tornara uma vida possível, viável.
A família de Lasloz ouvia atentamente as histórias que Labibah contava. Assim aprendiam sobre o pensamento das pessoas no Oriente Médio. As explicações de Labibah os cativavam. Sentiam que haviam sido indiferentes com a realidade dos refugiados sírios até aquele momento.
Compreenderam, entre outras coisas, que a mudança de religião no mundo muçulmano é algo muito complexo. Em geral, as famílias recebem isso como uma traição por parte do familiar. Assim, ele não é mais bem vindo. Não é mais convidado para festas e casamentos. Algumas vertentes religiosas mais radicais aplicam castigos físicos e até a morte. Enfim, não há uma forma única de lidar com a situação. Mas desde que os rebeldes tomaram parte da cidade de Aleppo, os cristãos passaram por situações ainda mais difíceis, ao serem vistos como inimigos do islã.
Ouviram um pouco mais sobre a diversidade da religião islâmica. O islamismo não é sempre o mesmo. Suas variações dependem das diferentes interpretações que são feitas do Alcorão e da Sunna. Jihad , por exemplo, significa "luta", "esforço". O conceito espiritual é o empenho por manter-se fiel à fé. Num discurso fundamentalista de grupos religiosos extremistas, ganha caráter de "guerra santa", justificando crueldades e até a morte de cristãos e de quem quer que se oponha às intenções do grupo requerente de seus direitos. Esse foi o caso do grupo de cristãos coptas, mortos na Líbia. Todos receberam um tiro na cabeça. Ao mesmo tempo. Eram taxados como "o povo da cruz".
Através das conversas com Labibah puderam entender que na Síria a violência contra os cristãos se dá em termos de discriminação no trabalho e nas escolas, pressão da família, saques às suas casas ou comércio, ataques aos prédios das igrejas. A finalidade é pressionar por meio do medo. Porém, a tomada de partes da cidade por forças extremistas tem gerado medo de que tais fatos cheguem ao seu país também.
A guerra na Síria é política, mas difícil de separar na guerra religiosa. Grupos como Fatah al Sham e Ahrar al Sham, agregam valores religiosos aos interesses políticos. Isso é assim desde sempre, mas não há uniformidade. Pode haver coalizões como as duas principais de Aleppo, Jaish al Fatah e Fatah Haleb. Mas sempre tem um outro grupo, ainda mais extremista se formando, por meio de dissidência. Uma "Al Qaeda" pra cada "Estado Islâmico". Um cidadão de Aleppo sabe dessas diferenças e as identifica no seu dia a dia. Desde a insurgência rebelde, contra o governo Assad, o medo se tornara presente para os cristãos. Parte do apoio que Assad recebe dos cidadãos é pela incerteza do que aconteceria aos cristãos sob um governo rebelde.
Conheceram a história de conversão de Kadar e Labibah. Ainda na universidade, eles se aproximaram dos cristãos e descobriram que eles não eram como que diziam que eram. Não é que fossem perfeitos. Mas eram tranquilos, e não impunham condições quanto a quem dispensariam sua bondade. Eram bons entre si, com os outros não-cristãos, e até com aqueles que os desprezavam. Assim, por curiosidade, começaram a frequentar algumas reuniões cristãs. Em pouco tempo, passaram a ler a Bíblia de maneira independente. Não conversaram com outras pessoas sobre seus pensamentos a respeito da leitura. Comentavam entre si, trocavam algumas ideias, mas cada qual teve um processo diferente de aproximação com o cristianismo .
Labibah se aproximou pela igualdade entre homens e mulheres que leu nas histórias bíblicas e reconheceu no tratamento dos homens cristãos com suas esposas, e demais mulheres do campus.
Kadar se aproximou pelo perdão. Quanto a isso, Sr. Lasloz, a esposa e o filho acenaram afirmativamente. Perfeitamente compreensível.
"O que a maioria das pessoas não compreendia era que tornar-se cristão não significava aceitar o ocidente" disse Labibah em uma de suas explicações. Nem as incoerências históricas do cristianismo. Não se tratava-se de adorar as fogueiras da inquisição, nem venerar as cruzadas. Era uma questão pessoal, um pouco difícil de explicar, mas forte o suficiente para reconfigurar sua visão de mundo. Era possível enxergar as pessoas fora do sistema de leis cumpridas ou descumpridas e das inúmeras punições. Era possível encontrar valor nas situações mais banais do cotidiano e ver nelas uma maneira de Deus falar. As palavras de Deus estão em todas as coisas que nos acontecem. Boas ou ruins."
Ficaram sabendo também que a história de Jesus, na perspectiva da Bíblia, foi uma novidade intrigante para o jovem casal. Descobriram que conheciam várias versões de quem teria sido Jesus e como foi sua morte. Mas, nunca o tinham pensado sua morte como um ato de entrega absoluta, colocando-se no lugar de outros, os quais não mereciam o sacrifício. Pessoas, nós diríamos, pelas quais não vale a pena.
Foi do ponto de vista de uma religião de aceitação, onde as pessoas não são incluídas ou excluídas a partir de seus delitos, é que Kadar e Labibah escolheram essa nova forma de vida. A vida cristã se tornara uma vida possível, viável.
Neste capítulo encontramos dados interessantes sobre política e relegião islâmica. Também ficamos sabendo como ocorreu a conversão de Kadar e Labibah ao cristianismo.
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