Cap. 30 - Cruzando a porta


A porta do vagão abriu-se e uma luz cegou minha visão infantil. O brilho ofuscante era um convite. Como quiséramos chegar. Como choramos esperando estar ali. Como sofremos porque estávamos exaustos e ainda tão distantes. Milhares de quilômetros de distância. Agora estávamos ali diante da porta do vagão do trem. Finalmente chegamos! A voz de meu pai interrompeu: Vamos!
Ao cruzarmos a porta do vagão, vimos milhares de pessoas à nossa frente! Um grupo em especial segurava cartazes com nossos nomes e fotos. "Herzlich willkommen", li num cartaz. Embora eu ainda não conhece o idioma alemão, eu sabia o que significava. Estava estampado nos rostos das pessoas ao redor. Sorrisos. Algumas lágrimas.
Eu e meus irmãos ganhamos alguns presentes ali mesmo, na plataforma da estação. Ursos de pelúcia e doces. Meus pais choravam de alegria e repetiam "vielen Dank". 
Não sei como, mas os novos amigos de nossa família providenciaram tudo para nós. Entregaram a chave de nossa nova casa ao meu pai, e algumas pessoas continuaram conosco.
De carro, atravessamos alguns quarteirões. Eu observava tudo, era como se quisesse ver mais do que meus olhos eram capazes. Admirado vi prédios modernos e antigos. Árvores. Pessoas caminhando nas ruas. Crianças passavam de mãos dadas com adultos, seus pais, imaginei. Todos pareciam tranquilos. Aliviados por estarem chegado ali.
Chegamos ao novo endereço, em frente de um novo edifício. Subimos as escadas entramos no apartamento. Novo apartamento. Todos foram embora depois de trocar abraços e desejar bençãos à nossa família recém-chegada. “Não esqueçam. O que precisarem, tá bom? É só ligar”.
No quarto de dormir, nossas camas arrumadas. Para mim, Najma e Yusef.
Frankfurt era um lugar novo para nós. Embora fosse muito diferente de Aleppo, sentíamos como se estivéssemos em casa. Da janela da sala de nosso apartamento eu pude conhecer a cidade. Era como ver um aglomerado de muitas cidades numa só. Os prédios antigos, as pinturas envelhecidas das fachadas. Vi a dupla Castor e Pollux. Dois prédios altos, espelhados, imponentes. Eu admirava os admirava à distância. Era uma mistura dos telhados de madeira com suas janelas embutidas, dos vidros espelhados e das torres de igrejas antigas. Com o passar do tempo, fui descobrindo muitas  outras misturas na cidade.
Essas misturas definiram nossas vidas dali para frente.

Comments

  1. Nesse capítulo Danijal coloca suas impressões sobre su a nova cidade. Finalmente, uma recepção digna.

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