Cap. 31 - Labibah
Sinto-me feliz por estar com minha família nessa cidade. Depois de tudo o que enfrentamos, encontramos um novo propósito. E ele surgiu logo nos primeiros dias em Frankfurt.
Caminhando pela cidade, andando de trem ou olhando pela janela, vimos que nossa situação era apenas uma gota em um grande oceano.
Nossos olhos foram se abrindo para a grande mistura de pessoas. Ainda impressiona-me, mesmo depois de tantos anos, a multiplicidade de culturas estampada nos rostos dos que caminham pela cidade. Asiáticos e árabes certamente se destacam. Entretanto, as nacionalidades são da casa das centenas. Aqui é comum não ter passaporte vermelho. Aliás, ser cidadão de Frankfurt é ser um cidadão estrangeiro.
As pessoas são muitas e elas não param. Estão sempre andando. Arrastando malas de rodinhas, ou carregando mochilas nas costas. Estão sempre indo a algum lugar. Sempre carregando coisas. As pessoas aqui nunca param.
Também não param de chegar. Cada uma delas tem uma história única. Verdadeira epopéia para chegar até aqui.
Nem param de partir. Alguns vão para outras cidades menores. Ou para outros países. Fazem a viagem de volta. Porque querem ou porque não têm opção.
Na Hungria o rumo de nossa travessia mudou. Fomos ajudados pela comunidade cristã pra chegar à Alemanha. Aquilo fez toda a diferença em nossas vidas.
Pessoalmente, eu não teria mais como continuar a viagem da maneira que estava sendo. Aquele episódio na praça de Budapeste mostrou o quanto no limite eu estava. O estresse, o pânico, a exaustão emocional não permitiam mais que eu continuasse embarcando em ônibus e trens, dormir no chão de estações, viver incertezas e o perigo de perder meus filhos e marido.
Então, naqueles primeiros dias na cidade, em cada rosto eu via uma história. E me perguntava se aquelas pessoas tiveram a mesma ajuda que tivemos.
Kadar sentia o mesmo. E dessa inquietação nasceu um propósito.
No início começamos a reunir as pessoas em torno de nossa história. Criei o blog e logo milhares de pessoas estavam dispostas a ajudar famílias a fazerem uma travessia segura, mais humana. Assim nasceu nossa ONG. No começo apenas colocávamos as pessoas em contato. Os que precisavam ajuda acessavam o blog e escreviam suas histórias. Os que podiam ajudar se dispunham, fazendo ofertas de moradia temporária ou emprego. Cada um dentro de suas condições. Aos poucos isso virou uma corrente de ajuda humanitária. Não podíamos ajudar a todos, mas isso não nos impediu de socorrer um grande número de famílias que, assim como nós, deixou a Síria.
Trabalhamos muito naquele tempo. Enquanto nossos filhos cresciam, dedicamos nossas forças para que outras crianças também pudessem crescer junto de seus pais.
Depois de um tempo voltei a trabalhar como médica. Já dentro da ONG. Atendendo refugiados. Agradeço todos os dias por isso.
Cada história, cada pessoa que consegue estabelecer uma nova vida, desperta um: "Valeu a pena".
Também agradeço todos os dias por ver quem Daniyal, Najma e Yusef se tornaram. Valeu a pena.
Caminhando pela cidade, andando de trem ou olhando pela janela, vimos que nossa situação era apenas uma gota em um grande oceano.
Nossos olhos foram se abrindo para a grande mistura de pessoas. Ainda impressiona-me, mesmo depois de tantos anos, a multiplicidade de culturas estampada nos rostos dos que caminham pela cidade. Asiáticos e árabes certamente se destacam. Entretanto, as nacionalidades são da casa das centenas. Aqui é comum não ter passaporte vermelho. Aliás, ser cidadão de Frankfurt é ser um cidadão estrangeiro.
As pessoas são muitas e elas não param. Estão sempre andando. Arrastando malas de rodinhas, ou carregando mochilas nas costas. Estão sempre indo a algum lugar. Sempre carregando coisas. As pessoas aqui nunca param.
Também não param de chegar. Cada uma delas tem uma história única. Verdadeira epopéia para chegar até aqui.
Nem param de partir. Alguns vão para outras cidades menores. Ou para outros países. Fazem a viagem de volta. Porque querem ou porque não têm opção.
Na Hungria o rumo de nossa travessia mudou. Fomos ajudados pela comunidade cristã pra chegar à Alemanha. Aquilo fez toda a diferença em nossas vidas.
Pessoalmente, eu não teria mais como continuar a viagem da maneira que estava sendo. Aquele episódio na praça de Budapeste mostrou o quanto no limite eu estava. O estresse, o pânico, a exaustão emocional não permitiam mais que eu continuasse embarcando em ônibus e trens, dormir no chão de estações, viver incertezas e o perigo de perder meus filhos e marido.
Então, naqueles primeiros dias na cidade, em cada rosto eu via uma história. E me perguntava se aquelas pessoas tiveram a mesma ajuda que tivemos.
Kadar sentia o mesmo. E dessa inquietação nasceu um propósito.
No início começamos a reunir as pessoas em torno de nossa história. Criei o blog e logo milhares de pessoas estavam dispostas a ajudar famílias a fazerem uma travessia segura, mais humana. Assim nasceu nossa ONG. No começo apenas colocávamos as pessoas em contato. Os que precisavam ajuda acessavam o blog e escreviam suas histórias. Os que podiam ajudar se dispunham, fazendo ofertas de moradia temporária ou emprego. Cada um dentro de suas condições. Aos poucos isso virou uma corrente de ajuda humanitária. Não podíamos ajudar a todos, mas isso não nos impediu de socorrer um grande número de famílias que, assim como nós, deixou a Síria.
Trabalhamos muito naquele tempo. Enquanto nossos filhos cresciam, dedicamos nossas forças para que outras crianças também pudessem crescer junto de seus pais.
Depois de um tempo voltei a trabalhar como médica. Já dentro da ONG. Atendendo refugiados. Agradeço todos os dias por isso.
Cada história, cada pessoa que consegue estabelecer uma nova vida, desperta um: "Valeu a pena".
Também agradeço todos os dias por ver quem Daniyal, Najma e Yusef se tornaram. Valeu a pena.
Aqui temos as reflexões da Labibah sobre a nova vida na nova cidade/ país.
ReplyDeleteA labibah percebe que existem muitos emigrantes que precisam de ajuda, assim como eles foram ajudados a chegar num país estranho. A partir daí cria um blog que mais tarde foi transformado numa ONG.